quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Fodidos

A noite chegou e ele não pode ver novamente o crepúsculo do dia comum. Não importava, ele nunca se importava e nunca iria se importar. Caminhou lentamente entre as ruas e avenidas dessa cidade morta, entre os rostos tristes e vazios como o seu, caminhou em direção ao bar D'Esquina, como gostava de chamar.Entrou e se sentou na mesma mesa que sempre se sentará, e nem preciso pedir a bebida, o garçom trouxe a primeira dose de Whisky e foi servir as demais mesas que estavam quase as moscas. Ele olhou pros lados e constatou o que sempre constata:' São todos uns fodidos, como eu'. Ele sabia disso, mas não se importava, ele tinha aceito o fardo dele ser um filha-da-puta sem sorte ou sem coragem, havia aceitada desde os seus 15 anos. Já se passará das 22:00 horas e ainda sua garganta pedia mais Whisky, mexeu nos bolsos e percebeu que só tinha mais vinte pratas e meio maço de cigarro Derby, riu do seu próprio infortunio e lançou um cuspe no chão do bar. Um homem entrou no bar e se aproximou, cara de bacana, cabelos castanhos escuros e oljhos frios e envolventes, ele pensou: ' um ótario procurando uma puta nessa espelunca', o homem se aproximou mais e disse:

- Licença camarada, posso me sentar com você?
- Só se você me pagar mais umas doses de Whisky- ele disse
- Sem problemas...
- Não sou veado não, se estiver pensando nisso cai fora
- Não estou procurando um veado, apenas uma compania nessa cidade morta
- Está bem, senta-se- ele disse
- Ok!

Os dois não trocaram uma palavra durante uma hora, ele bebia as doses da bebida paga pelo estranho e o estranho não parecia se incomodar com o silêncio, apenas disse:

- Onde você mora?
- Na República, na 24 de maio, numa pensão- disse ele com ar de poucos amigos
- Moro no Morumbi- disse o estranho
- Foda-se, somos todos uns fodidos
- Concordo
- É

O estranho se levantou, pagou a conta e lançou um olhar a ele de despedida, ele acentiu com a cabeça e bebeu mais um copo. Ganhou a rua a meia noite e sentiu vontade de passar na Augusta e comer uma vadia, mas a vontade passou e ele se pegou pensando no estranho, no que aquilo significava, por que um ótario do Morumbi, entrara num bar no centro dessa cidade imunda e pagara Whisky para um vagabundo quase sem teto? Não sabia, mas teve uma sentimento de compaixão, de solidariedade, talvez o estranho estava apenas precisando se sentir vivo, apenas se sentir um fodido de verdade.

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